FLORES DO SERTÃO
Respondeu que não. Que não sabe ler
E tão pouco escrever.
E tão pouco escrever.
Nunca viu o mar? Não senhora,
Mas dizem que é açude
grandão, sem paredes.
Sou sertanejo, não conheci escola
Só leio o céu, estrelas na lua cheia do sertão.
Os meus filhos fazem letras no
papel,
Nem sei desenhar meu nome, mas toco repente e sei rimar.
Nem sei desenhar meu nome, mas toco repente e sei rimar.
Na escola, meus miúdos vão pra
aprender a fazer conta.
Só se vive se sabe cobrar e pagar, dona. A vida aqui é peleja.
Só se vive se sabe cobrar e pagar, dona. A vida aqui é peleja.
Minha idade, eu não tenho certeza,
Sou homem maduro, tronco de terra firme.
Sou homem maduro, tronco de terra firme.
Aquele retrato – não conheço,
Mas gosto do sorriso. Viu o do finado, o anjinho, na parede?
Na cidade vejo o doutor, não me atrevo a puxar prosa,
Sou modesto, venho atrás do remédio. Bom mesmo é xarope de raiz.
Quando o mal me acomete, chamo Maria
Caipora.
É a benzedeira mais afamada do Vale.
É meio-dia.
Sol a pino,
Boca seca e barriga
vazia, hora da boia.
Volto pra lida, debaixo da fervura,
tenho bocas,
Meninos pequenos, são sete os meus.
Meninos pequenos, são sete os meus.
Já é hora. Vou levar o cachorro
outra vez,
Ontem mesmo, Fulo matou uma cobra.
Ontem mesmo, Fulo matou uma cobra.
E acredite, a mulher levou pra panela,
O cozido que é um manjar.
Segue o astro, com enxada no ombro,
Em peito nu de pele fadigada.
E as rachaduras dos calcanhares,
Marcam o chão de poeira na estrada.