sábado, 12 de janeiro de 2013

Flores do Sertão

Poema que recebeu Mensão Honrosa no "2º Concurso Literário Pague Menos Brava Gente Brasileira", em 2012. Subindo em Árvores, "Flores do Sertão" Simone Brichta. Vídeo: Davi D. Carvalho.





FLORES DO SERTÃO

Respondeu que não. Que não sabe ler
E tão pouco escrever.

Nunca viu o mar? Não senhora,
Mas dizem que é açude grandão, sem paredes.

Sou sertanejo, não conheci escola
Só leio o céu, estrelas na lua cheia do sertão.

Os meus filhos fazem letras no papel,
Nem sei desenhar meu nome, mas toco repente e sei rimar.

Na escola, meus miúdos vão pra aprender a fazer conta.
Só se vive se sabe cobrar e pagar, dona. A vida aqui é peleja.

Minha idade, eu não tenho certeza,
Sou homem maduro, tronco de terra firme.

Aquele retrato – não conheço,
Mas gosto do sorriso. Viu o do finado, o anjinho, na parede?

Na cidade vejo o doutor, não me atrevo a puxar prosa,
Sou modesto, venho atrás do remédio. Bom mesmo é xarope de raiz.

Quando o mal me acomete, chamo Maria Caipora.
É a benzedeira mais afamada do Vale.

É meio-dia. Sol a pino,
Boca seca e barriga vazia, hora da boia.

Volto pra lida, debaixo da fervura, tenho bocas,
Meninos pequenos, são sete os meus.
Já é hora. Vou levar o cachorro outra vez,
Ontem mesmo, Fulo matou uma cobra.

E acredite, a mulher levou pra panela,
O cozido que é um manjar.

Segue o astro, com enxada no ombro,
Em peito nu de pele fadigada.

E as rachaduras dos calcanhares,
Marcam o chão de poeira na estrada.

 

Manjar Branco do Mar




Sempre sonhando com o mar. Algumas vezes o mar avançava de forma assustadora. 


Subindo em Árvores, 2010. Simone Brichta. Vídeo: Davi Diógenes de Carvalho.  Literatura em Revista CCBNB 2012.

MANJAR BRANCO DO MAR




Mar, maresia e mitologia esculpida na areia,
mar, de Janaína e sete ondas da sorte
mar, que leva a rainha africana Iemanjá
mãe, cujos filhos são peixes.

Conduz pequenos barcos de flores e velas,
mar, água de espuma salgada da praia,
Da La Virgen de la Regla e do orixá:
da sereia negra, deusa do mar.

Mar, onde pessoas vestidas de branco
no segundo dia do mês de fevereiro:
dedicam festejo a divindade do mar
levam as oferendas em procissão fluvial.

Prata, manjar, da padroeira dos náufragos
sincretismo ecumênico na orla marítima
na devoção dos pescadores...
Mar, voluntarioso músico e místico.